UEG aproxima academia e mercado

Universidade oferece oficinas que promovem a produção e o intercâmbio de conhecimento com o intuito de trazer a experiência profissional à sala de aula.

Por Adele Lararin

 

Buscar uma aproximação entre a sala de aula e o mercado de trabalho e entender qual o papel da Universidade em relação à comunidade sempre foram questões importantes para os estudantes dos diversos cursos universitários no país. Pensando nisso, o professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Marcelo Costa, ao lado dos também professores Jô Levy e Sandro de Oliveira, idealizou a Universidade Aberta do Audiovisual. O projeto nasceu com o intuito principal de colaborar com o aperfeiçoamento e amadurecimento do audiovisual goiano, além de proporcionar momentos de formação não apenas para alunos e egressos da UEG, mas também aos profissionais do segmento.

 

A ideia da Universidade Aberta do Audiovisual surgiu em 2012 a partir das demandas dos alunos e das discussões do Fórum Goiano do Audiovisual e da Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas (ABD) sobre a formação profissional em audiovisual, quando Marcelo ainda era o coordenador do curso de Cinema e Audiovisual. O professor então vislumbrou nas leis de incentivo a oportunidade de realizar um projeto de formação que pudesse ser oferecido pela universidade àqueles interessados na capacitação audiovisual, vinculados ou não à UEG.

 

Marcelo explica que a qualificação profissional de quem atua no mercado se torna cada vez mais urgente, pois o audiovisual não parou no tempo, implicando, dessa forma, em uma atualização constante de seus profissionais. “A academia produz reflexões sobre esse campo e a partir das observações e ponderações acadêmicas podemos pensar e elaborar ações para o aprimoramento do audiovisual”, afirma o professor. “A Universidade age justamente na qualificação profissional a partir do entendimento da complexidade da área. Através da observação desses profissionais em escala micro e macro, podemos agir, propor reflexões e otimizar o mercado”.

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Sandro de Oliveira, Leo Garcia, Marcelo Costa e Jô Levy

 

Oficinas de roteiro

 

A primeira etapa da Universidade Aberta do Audiovisual foi pensada em torno da criação e desenvolvimento de roteiros devido à grande demanda formativa nesta área em decorrência do aquecimento do mercado audiovisual independente. O aumento em torno da produção independente de cinema se deve principalmente ao aporte financeiro do Fundo Setorial do Audiovisual e marcos regulatórios importantes, tais como a Lei da TV Paga.

 

Dentro desta primeira edição foram realizadas as oficinas de Roteiro para TV, com o roteirista e professor da PUC-Rio, Lucas Paraízo, e de Roteiro para Websérie, com o roteirista e fundador da produtora de roteiros Coelho Voador, Leo Garcia. As aulas tiveram como objetivo abordar o processo de criação de roteiros de ficção para essas plataformas, envolvendo temas como tom e ritmo da história e a construção da ideia e dos personagens. Também foram realizados exercícios de brainstorm e exposição de séries e modelos de roteiros. Durante a oficina ministrada por Leo Garcia, os alunos também precisaram colocar a mão na massa e se dividiram em grupos para elaborar o enredo de uma websérie, resultando em várias boas ideias.

 

Marcelo conta que as oficinas foram elaboradas para oferecer qualificação focada e ampliar o campo de atuação dos profissionais. “Os participantes têm aulas com pessoas que dominam o processo. São nomes de peso no cenário nacional”. Além disso, é preciso lembrar que a produção de conteúdo para web está em constante crescimento e que as webséries encontram cada dia mais espaço no mercado e atenção do público consumidor. Plataformas na internet como Netflix e Amazon investem pesado em séries próprias desenvolvidas especificamente para esse meio. “É preciso entender isso e entender que os profissionais precisam de suporte para atuarem nesse sentido”, comenta Marcelo.

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Oficina de Roteiro para TV

Academia e mercado audiovisual

 

Para Jô Levy, falar sobre academia e mercado requer uma reflexão mais ampla. “O mercado é volátil e muda conforme as contingências econômicas, políticas e tecnológicas. É de se admitir que as políticas educacionais sujeitam-se cada vez mais às variáveis do mercado, mas no âmbito do currículo e da formação acadêmica, convém enxergar mais longe e oferecer uma formação para o trabalho”, reflete.

 

A professora aponta que cursos técnicos podem e devem se ocupar das demandas imediatas do mercado, mas cabe ao curso de graduação proporcionar uma formação para o mundo do trabalho. “Trabalho aqui é entendido como algo maior que emprego ou ocupação; ele diz respeito a uma atividade que mobiliza nossa vocação, talento, engajamento e energia criativa”, afirma. “Tudo que diz respeito ao mundo do trabalho deve interessar à universidade, tendo em vista que seu compromisso é desenvolver as habilidades e competências em Cinema e Audiovisual, por exemplo, em pessoas que buscam uma melhor qualificação nessa área e, portanto, a construção de uma identidade profissional, um melhor trânsito no mundo do trabalho e uma realização pessoal”.

 

Para Marcelo, é preciso ter em mente que o mercado audiovisual sempre irá carecer de profissionais capacitados, pois as linguagens e as tecnologias estão em constante mudança e o público tem cada vez mais opções, implicando em uma qualificação e capacitação profissional contínuos. Além disso, deve-se lembrar de que a formação em Cinema e Audiovisual no país tem sido realizada principalmente na prática, já que os cursos de nível superior na área existem há menos de 10 anos. “Como área de conhecimento, o Audiovisual ainda deve percorrer um longo caminho de consolidação”, afirma Jô Levy.

 

Marcelo também explica que é preciso entender o atual cenário brasileiro. Em 2011, foi lançada uma normativa que modifica a estrutura do mercado no país e versa sobre conteúdo nacional em canais pagos, implicando assim na expansão de produções nacionais e locais que apresentem produtos de qualidade e realizados por quem tem capacidade técnica. Além disso, Estado e União buscam estimular a produção audiovisual lançando editais de incentivo e, dessa forma, provocando uma concorrência acirrada entre realizadores.

 

 

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Oficina de Roteiro para TV

 

Repercussão

 

A Universidade Aberta do Audiovisual vem sendo muito bem recebida tanto pelos alunos quanto pelos profissionais envolvidos. A procura pelas oficinas tem sido grande e a resposta que os participantes têm dado é bastante positiva. “Considerando que em Goiás as opções de formação em audiovisual são escassas, iniciativas como esse projeto realizado na UEG colaboram para oxigenar nosso mercado”, comenta Marcelo.

 

Érico Silva é aluno do curso de Cinema e Audiovisual e participante ativo das atividades realizadas pela universidade. Para ele, a experiência das oficinas foi além do aprendizado específico para roteiro, mas uma oportunidade de manter contato com outras realidades do Brasil. “Leo Garcia, por exemplo, é um profissional de grande participação no mercado, tendo realizado séries e atualmente desenvolvendo um longa. Para quem quer ser roteirista, é interessante conhecer profissionais independentes atuando no mercado nacional”, comenta Érico. “Além dos conhecimentos compartilhados, as oficinas acrescentam um modelo de atuação à nossa formação”.

 

O estudante também se lembra da importância que a academia tem para o mercado, especialmente na área de audiovisual. Ele aponta que é comum as pessoas ingressarem na faculdade sem saber de fato o que significa audiovisual ou como se dá o exercício profissional. “Este contato é substancial pra transformar o aluno em profissional”, conta.

 

 

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Oficina de Roteiro para Websérie

 

Incentivo à qualificação e produção de conhecimento

 

A experiência adquirida com a Universidade Aberta do Audiovisual também proporcionou a criação e desenvolvimento de outros projetos dentro da universidade, como o Trama – Narrativas Audiovisuais e Criação de Roteiros, núcleo criativo voltado para o desenvolvimento de roteiros audiovisuais, seja para o cinema, TV, mídias digitais e conteúdo audiovisual para a educação. Encabeçada por Jô Levy, o desenvolvimento desse projeto de extensão e cultura estará assentado em dois eixos principais: a formação e a experimentação.

 

Jô Levy explica que o Trama será constituído por um núcleo de trabalho composto por docentes e acadêmicos da UEG, bem como docentes e acadêmicos de outras instituições de ensino, roteiristas aspirantes e em formação e roteiristas experientes já atuantes no mercado profissional. O projeto contará com atividades de formação e produção de roteiros, com estímulo à experimentação e norteados por estudos dirigidos no âmbito da narratologia e dramaturgia.

 

A Universidade Aberta do Audiovisual retoma suas atividades em março com as oficinas que encerrarão a sua primeira edição: Roteiro Adaptado, com David França Mendes, e Roteiro – Gênero, Conceito e Pitching, com Newton Cannito. A intensão da organização é que o projeto tenha continuidade e que a cada temporada exista um eixo e que, a partir dele, surjam os desdobramentos temáticos. A produção de roteiro foi escolhida como eixo na primeira edição justamente por ser uma das bases do processo de realização audiovisual.

 

As oficinas da Universidade Aberta do Audiovisual são gratuitas e abertas a estudantes de quaisquer cursos e universidades, bem como profissionais da área e demais interessados. “Afinal, objetivo do projeto é justamente esse: fazer com que a comunidade tenha acesso a esse tipo de iniciativa e qualificação”, comenta Marcelo. “Todos nós precisamos enxergar que somos indefinidamente aprendizes e gestores do nosso próprio conhecimento. Sendo assim, dentro da universidade e depois dela, devemos seguir investindo em nossa formação”, conclui Jô Levy.

 

Fotos: Gabriel Newton e Matheus Medeiros

 

Texto publicado na Revista Janela em 15/02/2015

https://janela.art.br/destaque/ueg-aproxima-academia-e-mercado